quarta-feira, 9 de novembro de 2011

XANGO


Xangô é um Orixá bastante popular no Brasil e às vezes confundido como um Orixá
com especial ascendência sobre os demais, em termos hierárquicos. Essa confusão
acontece por dois motivos: em primeiro lugar, Xangô é miticamente um rei, alguém
que cuida da administração, do poder e, principalmente, da justiça - representa
a autoridade constituída no panteão africano. Ao mesmo tempo, há no Norte do
Brasil diversos cultos que atendem pelo nome de Xangô. No Nordeste, mais
especificamente em Pernambuco e Alagoas, a prática do candomblé recebeu o nome
genérico de Xangô, talvez porque naquelas regiões existissem muitos filhos de
Xangô entre os negros que vieram trazidos de África. Na mesma linha de uso
impróprio, pode-se encontrar a expressão Xangô de caboclo , que se refere
obviamente a um culto sincretizando influências do culto original (candomblé ou
umbanda) com cerimônias e mitos dos indígenas da região, também chamado de
candomblé de caboclo .

Na mitologia, é atribuído a Xangô (enquanto homem, ser histórico) o reinado
sobre a cidade-estado de Oyó, posto que conseguiu após destronar o próprio
meio-irmão Dada-Ajaká com um golpe militar. Por isso, sempre existe uma aura de
seriedade e de autoridade quando alguém se refere a Xangô.

Xangô é pesado, íntegro, indivisível, irremovível; com tudo isso, é evidente que
um certo autoritarismo faça parte da sua figura e das lendas sobre suas
determinações e desígnios, coisa que não é questionada pela maior parte de seus
filhos, quando inquiridos.

Suas decisões são sempre consideradas sábias, ponderadas, hábeis e corretas. Ele
é o Orixá que decide sobre o bem e o mal. Ele é o Orixá do raio e do trovão.
Miticamente, o raio é uma de suas armas, que ele envia como castigo. Ninguém,
porém, deve temer sua cólera como uma manifestação irracional.

Xangô tem a fama de agir sempre com neutralidade (a não ser em contendas
pessoais suas, presentes nas lendas referentes a seus envolvimentos amorosos e
congêneres). Seu raio e eventual castigo são o resultado de um quase processo
judicial, onde todos os prós e os contras foram pensados e pesados
exaustivamente - a famosa balança da Justiça. Seu Axé, portanto está concentrado
nas formações de rochas cristalinas, nos terrenos rochosos à flor da terra, nas
pedreiras, nos maciços. Suas pedras são inteiras, duras de se quebrar, fixas e
inabaláveis, como o próprio Orixá.

Numa visão litúrgica um pouco mais restrita e mais apegada às lendas de origem
dos Orixás, um filho de Xangô não se pode contentar apenas com uma pedra vinda
de uma pedreira ou de uma montanha para guardar numa vasilha o seu assentamento.

Xangô não contesta o status de Oxalá de patriarca da Umbanda, mas existe algo de
comum entre ele e Zeus, o deus principal da rica mitologia grega. O símbolo do
Axé de Xangô é uma espécie de machado estilizado com duas lâminas, que indica o
poder de Xangô, corta em duas direções opostas. O administrador da justiça nunca
poderia olhar apenas para um lado, defender os interesses de um mesmo ponto de
vista sempre. Numa disputa, seu poder pode voltar-se contra qualquer um dos
contendores, sendo essa a marca de independência e de totalidade de abrangência
da justiça por ele aplicada. Segundo Pierre Verger, esse símbolo se aproxima
demais do símbolo de Zeus encontrado em Creta.

Outra informação de Pierre Verger especifica que esse oxé parece ser a
estilização de um personagem carregando o fogo sobre a cabeça; este fogo é, ao
mesmo tempo, o duplo machado, e lembra, de certa forma a cerimônia chamada ajerê
, na qual os iniciados de Xangô devem carregar na cabeça uma jarra cheia de
furos, dentro da qual queima um fogo vivo, demonstrando através dessa prova, que
o transe não é simulado .

Xangô então, é o administrador que se curva à experiência e sabedoria do velho
Oxalá, o símbolo do poder em toda sua plenitude, mas que deve ser acatado por
Xangô quando em suas decisões intervir.

Xangô portanto, já é adulto o suficiente para não se empolgar pelas paixões e
pelos destemperos, mas vital e capaz o suficiente para não servir apenas como
consultor.

Outro dado saliente sobre a figura do senhor da justiça é seu mau relacionamento
com a morte. Se Nanã é como Orixá a figura que melhor se entende e predomina
sobre os espíritos de seres humanos mortos, Eguns , Xangô é que mais os detesta
ou os teme. Há quem diga que, quando a morte se aproxima de um filho de Xangô, o
Orixá o abandona, retirando-se de sua cabeça e de sua essência.

Deste tipo de afirmação discordam diversos babalorixás ligados ao seu culto, mas
praticamente todos aceitam como preceito que um filho que seja um iniciado com o
Orixá na cabeça, não deve entrar em cemitérios nem acompanhar a enterros.

CARACTERÍSTICAS DOS FILHOS DE XANGÔ

Para a descrição dos arquétipos psicológico e físico das pessoas que
correspondem a Xangô, deve-se ter em mente uma palavra básica: Pedra . É da
rocha que eles mais se aproximam no mundo natural e todas as suas
características são balizadas pela habilidade em verem os dois lados de uma
questão, com isenção e firmeza granítica que apresentam em todos os sentidos.

Atribui-se ao tipo Xangô um físico forte, mas com certa quantidade de gordura e
uma discreta tendência para a obesidade, que se ode manifestar menos ou mais
claramente de acordo com os Ajuntós (segundo e terceiro Orixá de uma pessoa).
Por outro lado, essa tendência é acompanhada quase que certamente por uma
estrutura óssea bem-desenvolvida e firme como uma rocha .

Tenderá a ser um tipo atarracado, com tronco forte e largo, ombros bem
desenvolvidos e claramente marcados em oposição à pequena estatura;

Por essas qualidades, é relativamente fácil para os iniciados descobrirem que
tal pessoa é de Xangô , pela aparência e modo de andar, o que é mais difícil
para tipos pouco mais sutis e mistos como Oxum, Oçanhe e Omolu.

A mulher que é filha de Xangô, pode ter forte tendência à falta de elegância.
Não que não saiba reconhecer roupas bonitas - tem, graças à vaidade intrínseca
do tipo, especial fascínio por indumentárias requintadas e caras, sabendo muito
bem distinguir o que é melhor em cada caso. Mas sua melhor qualidade consiste em
saber escolher as roupas numa vitrina e não em usá-las. Não se deve estranhar
seu jeito meio masculino de andar e de se portar e tal fato não deve nunca ser
entendido como indicador de preferências sexuais, mas, numa filha de Xangô é um
processo de comportamento a ser cuidadosamente estabelecido, já que seu corpo
pode aproximar-se mais dos arquétipos culturais masculinos do que femininos;
ombros largos, ossatura desenvolvida, porte decidido e passos pesados, sempre
lembrando sua consistência de pedra .

Em termos sexuais, Xangô é um tipo completamente mulherengo. Seus filhos,
portanto, costumam trazer essa marca, sejam homens, sejam mulheres (que estão
entre as mais ardentes do mundo). Os filhos de Xangô, não costumam ser
conhecidos socialmente como um tipo dado a aventuras. Não são os mitos sexuais
de sua sociedade e é para muito poucos amigos que confessam suas conquistas,
pois não faz parte de suas necessidades se auto-afirmar através desse
expediente. São honestos e sinceros em seus relacionamentos mais duradouros,
porque para eles sexo é algo vital, insubstituível, mas o objeto sexual em si
não é merecedor de tanta atenção depois de satisfeito desejo.

Psicologicamente, os filhos de Xangô apresentam uma alta dose de energia e uma
enorme auto-estima, uma clara consciência de que são importantes, dignos de
respeito e atenção, principalmente, que sua opinião será decisiva sobre quase
todos os tópicos - consciência essa um pouco egocêntrica e nada relacionada com
seu real papel social. Os filhos de Xangô são sempre ouvidos; em certas ocasiões
por gente mais importante que eles e até mesmo quando não são considerados
especialistas num assunto ou de fato capacitados para emitir opinião. A postura
pouco nobre dos filhos de Xangô e seu cultivo de hábitos considerados
aristocráticos ou pouco burgueses, é resultado dessa configuração psicológica.

Porém, o senhor de engenho que habita dentro deles faz com que não aceitem o
questionamento de suas atitudes pelos outros, especialmente se já tiverem
considerado o assunto em discussão encerrado por uma determinação sua. Gostam
portanto, de dar a última palavra em tudo, se bem que saibam ouvir. Quando
contrariados porém, se tornam rapidamente violentos e incontroláveis. Nesse
momento, resolvem tudo de maneira demolidora e rápida mas, feita a lei ,
retornam a seu comportamento mais usual.

Em síntese, o arquétipo associado a Xangô está próximo do déspota esclarecido,
aquele que tem o poder, exerce-o inflexivelmente, não admite dúvidas em relação
a seu direito de detê-lo, mas julga a todos segundo um conceito estrito e sólido
de valores claros e pouco discutíveis. É variável no humor, mas incapaz de
conscientemente cometer uma injustiça, fazer escolha movido por paixões,
interesses ou amizades.

Xangô é o Orixá julgador, destruidor, inteligente, impulsivo, violento.
Representa o poder transformador do fogo, é o padroeiro dos intelectuais e
artistas. Seu número simbólico é o doze, assim como doze são os ministros, Obas
, de Xangô.

Apesar de discordarmos da visão privilegiada do fogo como elemento de Xangô,
insistimos que a pedra é seu símbolo básico, mais redutor e mais abrangente ao
mesmo tempo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pesquisar este blog

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...